Ultramaratonista e vegana: conheça a história de Silvia Matos

Ultramaratonista e vegana: conheça a história de Silvia Matos

  • Camila Oliveira
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Silvia Novais de Matos, de 47 anos, é a prova viva de que veganismo também é significado de força. Vencedora da última Ultra dos Anjos Internacional, ultramaratona de 235 quilômetros, Silvia conta o quanto a mudança de hábitos alimentares foi benéfica para dar ainda mais propósito para seus treinos. 

Foto: Arquivo Pessoal/Silvia

Quando você se tornou vegana?

Sou vegana há exatamente três anos. Tudo começou no dia 1º de agosto de 2016.

Como aconteceu o seu despertar pela causa? 

Sempre gostei de culinária e já seguia grupos veganos e de proteção aos animais nas redes sociais. Eles ajudaram a despertar ainda mais minha vontade de mudar.

E o seu despertar foi pelos animais, pela saúde ou pelo meio ambiente?

Foi de tudo um pouco. Mas, principalmente, pelo sofrimento animal. Foi uma mudança tão surpreendente para mim, que atualmente não consigo ver nenhum bichinho sofrendo. Nem mesmo uma barata. Parece automático não querer o mal deles.

A sua escolha alimentar impactou a prática do esporte?

Muito, acredito que em 90%.

Desde quando você é atleta?

Sempre gostei de esportes, mas comecei nas corridas de rua, para valer mesmo, em 2015.

Comecei nesse tipo de prova sete meses após me tornar vegana. Até então, só tinha feito maratona. Sempre chegava muito cansada ao final e a recuperação demorava muitos dias. Minha primeira prova longa foi de 54 quilômetros em Inconfidentes (MG).

Como é a sua preparação para provas de resistência?

Nunca fui associada a algum tipo de assessoria e sempre treinei sozinha. Faço rodagens (treinos específicos para provas de resistência) de 15 a 18 quilômetros durante a semana, alternando com exercícios funcionais e alongamentos em casa, já que meus horários de trabalho são difíceis de conciliar com os das academias.

Foto: Arquivo Pessoal/Silvia

O que você consome durante as provas?

Consumo bananinha, rapadura, azeitona, amendoim, chips de banana, batata doce, água e soro. Não uso Gatorade ou gel. Sempre levo castanhas, nozes, amêndoas, amendoim, sementes de abóbora e de girassol para treinos longos.

Como funciona a sua alimentação?

Pela manhã, gosto de suco ou frutas com pasta de amendoim e, às vezes, tapioca. Não tenho hábito de comer muito antes de treinos e de provas, quando tentei comer um pouco mais, tive dificuldade. 

Nunca deixo faltar beterraba, cenoura, couve, espinafre e grãos (ervilha, grão-de-bico e feijão). Sempre preparo com legumes ou adiciono coco e tofu para aumentar as proteínas.

Quais são os principais desafios que você enfrenta como atleta?

O valor das inscrições e os tênis. Como faço muita rodagem, os tênis duram pouco. As provas são muito caras, paguei R$ 1.080 na BR e R$ 770 na Ultramaratona dos Anjos Internacional (UAI). E isso é só o valor da inscrição, sem incluir os outros gastos. 

Quais foram as principais maratonas que já participou?

Nas maratonas São Paulo, Rio, City, São Bernardo. Nas ultramaratonas de Inconfidentes, Botucatu, Desafio 24 horas de 135 km UAI 235km em 2018. Fiz também a Ultramaratona BR de 230km em janeiro deste ano e recentemente a UAI de 235km. 

Qual é o sentimento ao finalizar uma corrida como Ultra dos Anjos Internacional? 

Foi um percurso desafiador. Passar dois dias e duas noites sem banho, sem dormir, sem me alimentar direito e sozinha nos trechos mais duros. Foi surreal. Acredito que minha expressão facial (veja abaixo!) falava tudo quando terminei a corrida e, naquele momento, ainda pude falar sobre o veganismo. Foi muita emoção!

Foto: Arquivo Pessoal/Silvia

Foi a sua maior conquista até hoje?

Com certeza sim! Na verdade, nunca vou para essas provas com pretensão de chegar na frente. Minha superação é sempre pessoal. Desde que me tornei vegana, o foco é mostrar o quanto a gente consegue se superar sem uma alimentação com sofrimento animal. Percebo que a grande parte das pessoas ficam preocupadas em adoecer ou pensam que ficarão fracas. 

Chegar na frente numa prova desse nível de dificuldade foi demais, às vezes ainda me pego sem acreditar.

Você sente que a sua vitória trouxe mais visibilidade para a força de uma alimentação vegana?

Sim! Desde que aumentei a distância das corridas para as ultras, as pessoas me questionam sobre isso. Sempre deixei claro que a minha mudança tinha sido e ainda é por causa do veganismo. Inclusive, algumas me procuraram e eu as ajudo no processo de transição. 

Até onde você pretende ir?

Penso em me superar a cada dia, independentemente dessa vitória. Quando concluo uma corrida, eu penso: “se consegui essa distância, farei outra maior”. Assim posso propagar mais ainda o veganismo. 

Qual é o próximo desafio?

Pretendo fazer a Ultramaratona BR, que terá um percurso novo de 230 quilômetros.

E o seu maior sonho?

Participar da Badwater, a ultramaratona mais difícil do mundo, que acontece no Vale da Morte, na Califórnia, nos EUA. Mas agora não tenho condições, as provas são muito caras.

Gostaria de deixar uma mensagem final?

Quanto mais a gente puder divulgar que dá para ser saudável sem sacrifício animal, melhor!